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#136 - Convida: Carollina Carreteiro

#Edição 136


Carollina Carreteiro é uma das figuras mais vibrantes do cenário artístico brasileiro contemporâneo, reconhecida por seu olhar aguçado na descoberta de novos talentos e sua abordagem inovadora como galerista. Com formação multidisciplinar em marketing, fotografia, cinema, artes cênicas e gestão cultural, a carioca que passou por Madrid e Berlim antes de se estabelecer em São Paulo, recém-lançou o projeto ORA - uma galeria itinerante que estreou com a exposição "Sobre Cor”, reunindo obras de mestres como Hélio Oiticica e Tunga ao lado de artistas emergentes. Após experiências na Art Rio e na plataforma Artsy, Carreteiro tem se destacado por sua capacidade de trazer frescor ao mercado, funcionando como uma verdadeira antena para tendências artísticas e dedicando-se a dar visibilidade a artistas com narrativas plurais, consolidando sua posição como uma das principais articuladoras da cena cultural paulistana.
Uma filosofia que me guia
Seguir a intuição em relação aos lugares onde temos que estar - a minha é muito forte! Vou aonde a vida me leva e a minha natureza é nômade. Depois de três anos em Berlim, eu senti que a minha história ali tinha terminado, pelo menos naquele momento. E agora estou testando São Paulo pela primeira vez, e adorando.
Um artista que vale a pena conhecer
Vou citar três, posso? A produção brasileira é muito rica, plural e ousada, então vou citar artistas nacionais: Enorê, que trabalha principalmente com cerâmica impressa em 3D e argila. Ganhou o prêmio Pipa esse ano, mas o trabalho ainda é bem mais reconhecido lá fora do que aqui. A Santarosa Barreto, que é super intelectual e realiza um trabalho delicado, pop e lindíssimo. E a Flora Leite - tô pirada nela! É hiper conceitual e as pesquisas dela são negociadas de acordo com os espaços propostos.

THEY’RE ALL YOU, ENORÊ.
Uma obra que, se pudesse, se daria de presente de Natal
The Illustration of Art, do Antonio do Dias, que faz parte da exposição. Tenho uma relação muito próxima, a filha dele é como uma irmã pra mim. E admiro muito essa obra e essa fase do trabalho dele, dos anos 70.

Uma marca que descobri na última viagem
Passei uma temporada na Cidade do México e descobri a marca da Carla Fernández, esposa do Pedro Reyes, que é um artista de lá. Eu sou fashionista, adoro me montar e adorei as peças que comprei lá, são muito especiais.
Uma obra que significa muito para mim
"Saturn" de Goya, foi meu primeiro encontro marcante com a arte. Sempre fui obcecada por mitologia quando criança. Lembro que, aos 6 ou 7 anos, o primeiro livro que chamou minha atenção e me deu vontade de ler falava do Mito de Cronos e trazia essa pintura. A imagem mexeu tanto comigo que comecei a chorar, levando minha mãe a rasgar a página do livro. Anos depois, aos 21 anos, visitei o Museu do Prado, em Madri, e vi pela primeira vez essa obra ao vivo, na sala de Goya. Foi uma experiência muito marcante que me levou a refletir sobre como Saturno representa o tempo - tanto imageticamente quanto simbolicamente -, funcionando como um despertar para minha consciência sobre a passagem do tempo.

Uma exposição que vale a pena
O Sobre Cor, no ORA! É um projeto itinerante, que nasceu da vontade de fazer o que amo, que é montar exposições, e também de um entendimento sobre mim mesma, dessa natureza nômade. Já fui e voltei da Europa duas vezes nos últimos anos, viajo muito e vou aonde a vida me levar, sinto uma intuição muito forte sobre os lugares onde tenho que estar. Criei algo que tem a ver com o meu estilo de vida. Esta edição acontece no prédio onde Anita Malfatti expôs em 1917 e a ideia é que sempre aconteça em lugares que tenham um legado cultural.
Um livro que vale a pena ler
Hitchcock / Truffaut. É um dos melhores livros que eu já li na vida. O Truffaut faz 500 perguntas para o Hitchcock e é genial. Esse foi um dos muitos livros que eu li na casa do Caetano. Ele ganhava livros e livros e eu me lembro que ele acordava tarde e eu, cedo. Então eu passava as manhãs lendo aqueles livros. Sem esses anos eu não seria quem sou… despertaram meu interesse por arte, literatura e cinema.

Como entrei no mundo da arte?
Foi uma jornada muito longa. Meu pai é engenheiro e minha mãe, médica. Eu não fazia a menor ideia do que queria fazer da vida e, como era boa em português e história, comecei a cursar Direito. Depois cursei Comunicação, mas foi durante meu relacionamento com Zeca Veloso, filho de Caetano, que o universo da arte, completamente novo e diferente, se abriu para mim. Comecei a conviver com artistas muito bem-sucedidos, e isso me moldou e me inspirou.
Uma mudança que gostaria de ver no mundo
A conservação de prédios históricos no Brasil é um desafio que me preocupa. E há outra questão, mais utópica, mas que eu adoraria ver resolvida: a diminuição da tensão entre elitismo e identitarismo na arte.
Um museu ou galeria que vale a pena visitar…
O Schinkel Pavillon em Berlim, é um venue mantido com subsídio público. As exposições são muito cutting edge (de vanguarda), sendo o melhor lugar para para pesquisar boas referências, antecipar o que vai estar na agenda, o que vai ser falado, porque ele antecipa muita coisa. Sempre que o visito, sei que o que vi por lá estará na Bienal de Veneza no ano seguinte.
Um filme que vale a pena ver
Rocco e seus Irmãos, porque além de ser dirigido pelo grande Visconti, um dos maiores diretores de todos os tempos, e por sua abordagem inovadora: em vez de focar em um único protagonista, coloca a família como personagem central da narrativa, o que o torna um filme completamente fora da curva.

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