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#140 - Convida: Cris Dias

#Edição 140


Cris Dias é um profissional multifacetado que construiu uma carreira significativa na intersecção entre tecnologia, comunicação e mídia digital. Após experiências em mecânica e publicidade, formou-se em análise de sistemas pela PUC-Rio, tornando-se pioneiro no cenário digital brasileiro como um dos primeiros blogueiros em português e o primeiro brasileiro no Twitter. Sua trajetória profissional inclui posições de liderança em empresas como Facebook/Meta e BuzzFeed, além de colaborações com grandes marcas globais. Atualmente, é sócio fundador da Ampère e apresentador do podcast Boa Noite Internet, além de atuar como preparador de palestrantes no TEDx, tendo ele próprio participado de eventos importantes como SXSW e Rio2C.
Uma palavra que vale a pena conhecer
Adoro palavras e os seus significados “ocultos”, tanto no sentido etimológico quanto de ficar pensando o porquê de alguém ter escolhido usar esta ou aquela palavra. Talvez por isso eu seja aquele chavão que já virou piada de “amo todas as palavras igualmente”, porque vou encontrando palavras e me apaixonando por elas. “Nossa, uau, eu não tinha ideia de que essa palavra um dia significou outra coisa”. A religião, por exemplo, estragou várias palavras, colocando um peso moral que antes não existia. “Tentação” é uma dessas, que antes significava só “provar, tentar, experimentar” alguma coisa. Mas se a gente for pensar o quanto a moral religiosa é conservadora esta revelação de que “tentação” é só o ato de experimentar algo novo explica a magia da palavra.
Já minha palavra que não existe preferida é “sincericídio”, que aprendi com minha amiga Juliana Constantino. Serve para muitas ocasiões na minha vida, quando eu devia ter ficado com a boquita caladita. Por outro lado, sei que muito da minha (boa) reputação foi por ser sincero com algumas pessoas, inclusive clientes.
Um conselho que eu daria para o Cris de 10 anos atrás
“Em 2020 vai ter uma pandemia, tente não surtar tanto.” Tá, brincadeira. Preocupe-se com o que você faz, não com o que você é, o nome do cargo, da empresa, com a fama. Assim você vai ter a calma de focar no que é importante para você e não no que você acha que os outros querem que você seja.
O melhor presente que já recebi e por quê
Em 2018 meu meme preferido era esse abaixo. Já vivíamos essa coisa bem atual de todo mundo se meter na vida de todo mundo.

No fim do ano eu e o Alexandre Maron fundamos oficialmente a Ampère. Quando nos mudamos para o co-working, estávamos naquela coisa de arrumar mesa, montar nosso cantinho, etc., ele pegou um caderninho desses que a gente recebe de brinde em evento, tascou-lhe uns 3 pedaços de fita adesiva e escreveu em cima de canetinha. “Foda-se”.
Qual o papel do ritmo e do silêncio na arte de contar histórias em áudio
Quando comecei o Boa Noite Internet em 2018 os podcasts no Brasil ainda eram muito dominados pelos “mesacasts”, incluindo o Braincast, do qual sou membro fundador. Quando chamei a Jessica Correa para editar o Boa Noite Internet gastei um tempo acertando com ela os tempos de pausa no roteiro. Eu viva dizendo “O Boa Noite Internet é um podcast que não tem pressa”, para ela não economizar pausas. Hoje em dia, mais de 100 programas depois, ela já sabe exatamente quanto de pausa deixar — ou não — em cada parte do roteiro.
Uma pergunta difícil que continuo tentando responder
O que eu vou fazer da minha vida. Achei que nesta idade eu já saberia responder, mas a única coisa que consegui descobrir foi que provavelmente nunca vou ter essa resposta.
Um livro que vale a pena ler
“Resista: não faça nada”, da Jenny Odell, que no original em inglês tem um nome muito mais divertido: Como não fazer nada. Não por acaso foi o primeiro livro que fiz resumos comentados no Clube de Cultura do Boa Noite Internet. Ele não só mostra as várias maneiras com que transformamos tudo na nossa vida em “produto”, mas também traz alguns conselhos práticos de como quebrar este ciclo. Por isso “não fazer nada” não é ficar olhando para o teto, mas sim fazer coisas “que não servem para nada” na lógica da produtividade do sistema. Como a arte.

Uma pessoa entrevistada que te ensinou algo inesquecível
Este ano descobri pela Helena Galante, que ouviu de um monge jainista indiano, que “amar é aceitar o que é”. Esta deve ter sido a frase que mais mudou minha vida nos últimos anos.

© TedX
Um tema que ainda não explorei, mas adoraria trazer no seu podcast
Nostalgia. Sou o cara que odeia viver do passado, não gosto de quem fica o tempo todo dizendo que “antigamente é que era bom”. Mas acho que a nostalgia também pode ser respeitar o passado e não deixar que ele seja destruído para, por exemplo, subir um prédio super moderno.
Meu lema nos momentos de dúvida/dificuldade é…
O nome da newsletter da minha amiga Gaía Passarelli: tá todo mundo tentando. Não acredito em maldade, que alguém faz uma coisa porque “é má”. Tá todo mundo tentando e se eu entender o ponto de vista, a narrativa pessoal daquela pessoa vamos acabar nos resolvendo.
Uma causa que carrego comigo no dia a dia
Que a solução está no coletivo, não em nenhuma figura individual. O problema é que isso não tem graça, não tem herói, não tem ato fulminante que resolve tudo como nos filmes. Mas a vida real é sem graça — e que bom. Estamos cada vez mais nos afundando nessa epidemia de individualismo, onde o eu é a coisa mais importante do mundo. Me inclui nessa, claro. Não está dando certo, mas achamos que o problema é que precisamos de mais individualismo, focarmos mais nos nossos desejos e sonhos — esquecendo que só chegamos nesta posição de espécie dominante do planeta porque agimos coletivamente.
Uma newsletter que não pode faltar na minha caixa de entrada
“Não prometo nada”, da Marie Declercq. Adoro como ela escreve sobre temas complexos da vida cotidiana de maneira clara e sem ficar apontando dedos. O texto dela sobre heteropessimismo é um ótimo exemplo.

© Não Prometo Nada
Um lugar que sempre volto porque me faz bem
O sofá da sala, com meu computador no colo, escrevendo ou pesquisando - como estou fazendo agora.
Um podcast que me faz pensar
The Gray Area, com Sean Illing. Quando eu crescer quero ser que nem ele, buscando ideias interessantes e pessoas com pontos de vista que não necessariamente se encaixam com o dele.

© Vox
Um convidado dos sonhos para o Boa Noite Internet
Tive o privilégio de conhecer o Felipe antes de ele ser tudo isso, na época em que a internet era tudo mato e ele já estava tentando empreender online. Depois, na Copa de 2010, ele foi chamado para participar de um projeto de um cliente e pude vê-lo gravando seus vídeos ali, na minha frente, sozinho, ele e a câmera, e desde então respeito demais o que ele faz. Tenho milhões de coisas para perguntar a ele, mas principalmente quero saber como foi construir essa casca grossa que ele tem, para aguentar ser o alvo de tanta gente.
Uma frase que é meu mantra para a vida
Pareço um cara sério e sábio, mas meu mantra é 'vida de babaca é atribulada'. Sempre que vejo que estou complicando as coisas, burocratizando, lembro dessa frase e relaxo.
O único artista cujo trabalho eu colecionaria se pudesse
Alceu Valença. Eu sou completamente apaixonado pelo trabalho dele, em como ele inventou um estilo único e, ao mesmo tempo, universal. Deve ser muito legal ser o Alceu Valença.

Uma conta do Instagram que nunca deixo de acompanhar
Os stories do meu amigo @sukitabr. É minha caixa “em caso de emergência quebre este vidro” para dar boas risadas e ver como o mundo é totalmente absurdo, então vamos só aproveitar o passeio.
Uma mudança que só aconteceu por contas das entrevistas que conduzi
Talvez o objetivo secreto do Boa Noite Internet seja eu descobrir uma coisa nova a cada programa, seja nas entrevistas ou nos ensaios. Escrever é, para mim, um processo de descoberta. Não tem graça escrever sobre o que eu já sei (mentira, tem sim; O primeiro episódio do Boa Noite Internet é um exemplo, e foi muito legal fazê-lo).
O segredo para me manter curioso
O mundo é maravilhosamente rico, cheio de pessoas, histórias e coisas que não sabemos. Eu estou sempre curioso porque sei que não sei de tudo e adoro ser surpreendido. Acho que dizer “eu não sei” é uma das coisas mais poderosas do mundo — mas vivemos em um sistema que geralmente pune quem diz isso. Eu não sei, eu não tenho a resposta. Mas bora lá descobrir.
Uma atividade que nunca me canso de fazer
A resposta mais sincera para esta pergunta é “nada, com o tempo eu me canso de tudo” e não me orgulho disso (olha aí o sincericídio). Eu adoro escrever, mas várias vezes fico deixando para depois. “Agora não dá, estou sem inspiração”, ou só porque alguma coisa mais divertida aparece na minha frente. Mas sempre, sempre que começo a escrever eu me pego pensando “nossa, como eu gosto de fazer isso, nunca mais vou parar de escrever”.
Algo que gostaria de aprender, mas ainda não tive tempo
Criar jogos. É meu principal projeto de 2025: fazer algum jogo, qualquer jogo - não precisa ser um sucesso nem inovador. Fazer um jogo eletrônico é, provavelmente, meu sonho mais antigo, desde quando vi um computador pela primeira vez, ainda criancinha.

Uma indulgência que nunca abriria mão
Videogames. Jogo mais do que gostaria de admitir, a ponto de afetar meu consumo de séries e livros. Mas não vivo sem. É minha maneira de me desconectar completamente do mundo e focar na próxima tarefinha na tela.
Uma tecnologia do futuro que espero ver na minha vida
A Inteligência Artificial generativa (ChatGPT e afins) despertou em mim uma animação que eu não sentia desde o surgimento das redes sociais. Sei que o tema envolve vários problemas, e muita gente tenta vender algo que (ainda?) não é verdade. Mas a IA vai mudar o mundo, provavelmente mais do que a prensa de Gutenberg. Resta saber se para o bem ou para o mal.
Uma pergunta que eu adoraria responder, mas nunca me fizeram
Qualquer pergunta envolvendo “me diz o que você acha sobre isso aqui”. Sou palestrinha demais.
Uma mudança no mundo digital que gostaria de ver acontecer
Pararmos de servir aos algoritmos e voltarmos a servir nosso público.
Um filme ou série que me fez questionar algo importante
“Questão de Tempo”, de 2013, que eu brinco ser a “melhor comédia romântica homem-hétero da história”. Ilustrou-me muito bem a importância da atenção plena, de viver o momento sem ficar preso ao passado nem tentando prever o futuro.

Algo que me tira da minha zona de conforto, mas eu gosto de fazer
A zona de conforto é maravilhosa! É quentinha, tem almofadas, café passado na hora. Adoro. Mas sem brincadeiras, falar em público é algo que, ao mesmo tempo, me apavora e me atrai. Eu passei a ter uma relação muito melhor com falar em público anos atrás quando entendi que boa parte do sofrimento é eliminado com preparação. É método e processo, não “genialidade”. Aprendi que até as personalidades mais famosas do mundo, com carreiras de inquestionável sucesso, ainda sentem frio na barriga antes de subir no palco. E, assim, me permiti sentir também, sem culpa.
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