#146 - Fleetwood mac, comida de boteco com alta gastronomia, cogumelo que tudo cura, girbosses e mais!

Edição #146

Guia autêntico de cultura & experiência com indicações valiosas, que valem o seu tempo, do que ler, assistir, visitar, comer, experimentar e comprar.

A mulher moderna destrinchada num romance super pontual e necessário

Goddess Complex (ainda sem tradução em português), de Sanjena Sathian, é um soco na cara da cultura do empoderamento de fachada. A protagonista, Sanjana Satyananda, está no meio de um divórcio caótico depois de largar o marido em um retiro espiritual na Índia – tudo porque ele queria ter filhos e ela, bem, nem tanto. De volta aos EUA, ela tenta reconstruir a vida, mas logo se vê sugada para um thriller psicológico inesperado: Killian, o ex abandonado, desaparece do mapa, e de repente sua vida se torna um pesadelo de versões alternativas e escolhas que poderiam ter sido.

Sathian destrincha a loucura das "girlbosses" do Instagram, os cultos de autoajuda e a obsessão moderna pela maternidade como troféu. A escrita é ácida, rápida e impiedosa, jogando na mesa tudo o que a sociedade espera das mulheres e perguntando: quem foi que decidiu que esse era o único caminho? No fim, Goddess Complex é um raio-x afiado da paranoia feminina contemporânea e do capitalismo do autocuidado.

Explorando o passado para entender o presente

Em O Menino da Triste Figura, Kenzaburo Oe nos apresenta Kogito Choko, seu alter ego literário, retornando às raízes na ilha de Shikoku. Ao lado do filho Akari, Kogito se instala na antiga casa da família, herdada após a morte da mãe. Lá, ele embarca em uma jornada introspectiva, revisitando memórias e histórias locais para compor uma nova obra literária. Com a ajuda de Rose, uma pesquisadora americana espirituosa, Kogito busca desvendar a figura enigmática do "menino", um salvador lendário da região. Oe entrelaça passado e presente, realidade e mito, oferecendo uma reflexão profunda sobre memória, identidade e a incessante busca por conexão entre mundos distintos. 

O que é fazer arte no Brasil?

"Arte Subdesenvolvida" é uma exposição que joga na mesa a pergunta: o que significa fazer arte em um país que sempre foi tratado como de segunda classe? Em cartaz no CCBB Rio até 5 de maio, a mostra revisita a produção artística brasileira entre 1930 e 1980, uma era em que o Brasil tentava se encaixar no jogo global enquanto lidava com golpes, desigualdade e a eterna promessa de que "agora vai".

Com curadoria de Moacir dos Anjos, a exposição reúne mais de 130 obras de mais de 40 artistas e pensadores que transformaram a precariedade em potência criativa. Abdias Nascimento, Anna Bella Geiger, Cildo Meireles, Carolina Maria de Jesus, Lygia Clark, Solano Trindade – a galera que fez da arte uma resposta direta ao caos político e social do Brasil.

Mais do que um passeio nostálgico, "Arte Subdesenvolvida" esfrega na cara do espectador como a arte brasileira sempre teve que ser mais esperta, mais ácida e mais subversiva para existir. É sobre resistência, improviso e criatividade em um país que sempre flertou com a ideia de futuro, mas nunca largou o atraso.

Quando: 19.02 a 05.05.2025
Onde:  Rua Primeiro de Março, 66 – Centro – Rio de Janeiro
Entrada gratuita

A vida da comunidade LGBTQIAPN+ na África do Sul

O IMS São Paulo está com a exposição "Zanele Muholi: Beleza Valente", e se você não conhece o trabalho dessa artista sul-africana, agora é a hora. Muholi, fotógrafa e ativista da comunidade negra LGBTQIAPN+, tem uma trajetória que não é só sobre imagem – é sobre resistência, identidade e desconstruir a narrativa imposta pela sociedade.

A mostra traz desde suas séries mais conhecidas, como "Faces and Phases" e "Somnyama Ngonyama", até fotos inéditas feitas no Brasil, tudo com o objetivo de colocar em cena corpos que normalmente ficam à margem. Essa é uma exposição que vai além da estética – é sobre a luta para se afirmar e ser visto. Zanele Muholi não está só fotografando, ela está reescrevendo a história com cada clique, destruindo clichês e criando um espaço para que corpos negros e queer ocupem o centro da narrativa, ao invés de serem apagados.

Quando:  22.02 até 22.06.2025
Onde: Avenida Paulista, 2424. São Paulo
Entrada gratuita

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Rolê gastronômico sem firula

O De Segunda não tem pose de restaurante metido, mas entrega pratos que qualquer bistrô de respeito gostaria de ter no cardápio. A casa de Raul Juste Lores e Gil Carvalhosa acerta no que importa: comida honesta, bem feita e cheia de personalidade. O menu é um passeio por clássicos — picadinho, carne assada, estrogonofe —, sempre preparados com insumos de qualidade e a técnica afiada da chef Vivi Gonçalves. Nada de invencionice gratuita, só a combinação perfeita de sabor e afeto. O arroz com feijão, que muitos tratam como coadjuvante, aqui ganha protagonismo, porque o simples bem feito é o que realmente importa.

O ambiente segue a mesma linha: sem frescura, mas cheio de charme. A trilha sonora embala o almoço com um mix esperto de MPB e clássicos do rock, enquanto as paredes contam histórias com pôsteres vintage e um ar de nostalgia bem dosado.

Onde: Rua Professor Tamandaré Toledo, 160, Itaim Bibi, São Paulo

Bar, samba, clima carioca e comidas deliciosas

O Chanchada Bar, fundado por Edu Araújo (já conhecido por outros sucessos gastronômicos na cidade), tornou-se um ponto de encontro no Rio que mistura tradição e inovação. Entre os destaques do cardápio estão o croquete de bochecha de porco - crocante por fora e macio por dentro - e o saboroso coração de pato, preparado de forma magistral. Os escabeches e picles são a pedida certa para equilibrar os sabores mais intensos dos pratos. O bacalhau mantecato, versão brasileira do clássico italiano, surpreende com sua combinação de texturas e sabores memoráveis. Nas bebidas, a batida de caju com wasabi oferece uma explosão inesperada de doçura e picância e o ambiente descontraído, com mesas na calçada, é perfeito para aproveitar a brisa carioca.

Onde: Rua General Polidoro, 164, loja B, Botafogo, Rio de Janeiro