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#155 - EYN Convida: Ilidia do Nascimento Queiroz

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#Edição 155

Enquanto nos preparamos para celebrar o Dia das Mães neste domingo, fizemos um convite tão simples quanto poderoso: que nossa diretora criativa, Lidiane Queiroz de Oliveira, entrevistasse sua mãe — professora especialista em Língua Portuguesa, apaixonada pela língua materna, pela literatura e pelas possibilidades infinitas da linguagem. Ao longo da entrevista, ela compartilha suas referências, suas paixões e sua visão de mundo. Em tempos de avanços tecnológicos e inteligência artificial, nossa convidada nos lembra, com delicadeza e firmeza, que a inteligência humana — feita de sensibilidade, vivência e coragem — é insubstituível. Uma conversa para guardar, como quem guarda um bom livro na cabeceira.

O ensinamento que gostaria que suas filhas lembrassem para sempre

Espero que elas nunca se esqueçam de que, em qualquer lugar e circunstância, devem sempre lutar por sua independência, valorização e respeito, além de agir com determinação, responsabilidade e ética.

Uma pequena alegria cotidiana que nunca deixa de te fazer feliz

Uma alegria de mãe: conversar com minhas filhas, ainda que seja por mensagem de WhatsApp.

O que não pode faltar na sua casa dos sonhos

Um jardim florido, com pergolado, bancos e muitas plantas – desde que tenha alguém para cuidar dele, é claro.

Idioma que gostaria de aprender

A língua francesa. Nesse caso, tenho de concordar com o senso comum: é um idioma lindo, elegante, melodioso.

Um lugar no mundo que vale a pena conhecer

Os Lençóis Maranhenses (MA), um dos lugares mais belos que conheço. A combinação de dunas de areia branca com inúmeras lagoas de água doce cristalina, que se formam durante a época das chuvas, cria um cenário deslumbrante e único. É realmente uma paisagem quase indescritível, e desde 2024 o Parque Nacional dos Lençóis é reconhecido pela Unesco como Patrimônio Mundial Natural da Humanidade.

Um museu que te marcou profundamente

Não foi um museu propriamente, mas uma cidade que é um verdadeiro museu a céu aberto: Florença, na Itália, rica em história, arte e arquitetura, com suas igrejas, palácios, pontes e praças repletas de obras-primas. Fiquei extasiada. 

Um filme que todo mundo deveria ver pelo menos uma vez

‘Tudo sobre minha mãe” (Todo sobre mi madre), filme espanhol de Pedro Almodóvar. Vencedor do Oscar 2000 de melhor filme em língua estrangeira, é repleto de emoção, drama e humor, com personagens femininas fortes e complexas, além de uma estética vibrante característica da cinematografia de Almodóvar. As atuações de Cecilia Roth no papel principal e de Penélope Cruz como uma freira são um destaque à parte nessa obra-prima que provoca reflexões para muito além da maternidade.

Um artista cujo trabalho você colecionaria, se pudesse

Claude Monet, que, aliás, estará em exposição no MASP, a partir do dia 16 de maio.  Gosto das pinturas impressionistas, com as suas típicas pinceladas soltas e imagens sem contornos precisos, e Monet é o maior expoente desse estilo. Suas telas, geralmente pintadas ao ar livre e com a natureza como protagonista, me transmitem uma sensação de calma, leveza e encantamento.  “Campo de Papoulas” e “Impressão, Nascer do Sol” são as primeiras que eu compraria, se pudesse. 

Um hábito que vale a pena cultivar

Com certeza, o da leitura. Instrui, distrai, emociona, envolve, desperta... Para mim, mais que um hábito: um prazer e uma necessidade.

O melhor conselho que já recebeu

Ouvi, algumas vezes, de pessoas mais velhas: “Tenha paciência, que tudo se resolve”. Hoje, eu mesma dou esse conselho aos mais jovens. A princípio, pode parecer um convite à passividade, ao conformismo, mas, na verdade, é um chamamento a uma espécie de pausa estratégica naqueles momentos difíceis da vida. Muitas vezes, uma pequena pausa – até mesmo de alguns segundos ou minutos –, para refletir, para equilibrar as energias e as emoções –, pode significar a diferença entre a sensatez, que permite agir de modo mais acertado, e a impulsividade ou o desespero, que fatalmente levam às piores decisões.

Uma frase que vale a pena guardar para a vida

“É necessário se espantar, se indignar e se contagiar; só assim é possível mudar a realidade.” - Nise da Silveira, ilustre médica psiquiatra.

Palavra da Língua Portuguesa que vale a pena conhecer melhor

Qualquer palavra, por mais aparentemente sem graça que seja, pode se tornar interessante quando investigamos a sua origem, e eu tenho especial curiosidade por aquelas provenientes de nomes de entidades ou pessoas. A palavra "eco", por exemplo, com o sentido de repetição de um som após ser produzido em sua fonte, tem origem no grego "echó" e se refere a uma ninfa muito falante chamada Eco, que, por desagradar, em certa ocasião, a Hera – esposa de Zeus –, foi proibida de conversar e obrigada a sempre repetir as últimas palavras que ouvia.  

Uma dica para quem quer escrever melhor

Embora dependa um pouco do tipo de texto – se literário ou não, por exemplo –, de modo geral, é importante ler muito, escrever sempre, reescrever algumas vezes, estudar os tópicos relativos ao emprego da língua nos quais você tenha mais dificuldade, se for o caso, e, por último, considerar, humildemente, as observações e críticas que receber dos leitores. Ou seja, não é pura questão de talento.

Seus escritores preferidos

Clarice Lispector e Machado de Assis, dois grandes investigadores da alma humana. São absolutamente geniais, cada um em seu estilo: Clarice, com uma narrativa introspectiva e marcada pela subjetividade, como em “Perto do Coração Selvagem”. Machado, com sua ironia fina e inteligente, em páginas plenas de personagens complexos e referências culturais, a exemplo de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”.

Personagem da literatura que deixou uma marca em você

Ana Terra, protagonista do volume 1 da trilogia "O Tempo e o Vento", de Érico Veríssimo. Fiquei impressionada com sua força, dignidade e resistência diante de inúmeras adversidades que enfrentou. Além disso, foi o primeiro clássico que eu li, ainda no início da adolescência, e isso já me marcou muito.

Uma passagem da literatura que te acompanha nos momentos difíceis

Sempre me recordo de uma passagem do livro Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, na qual Riobaldo, narrador-personagem, ao refletir sobre os desafios diários da existência humana, tão imprevisível e dinâmica, diz o seguinte:

O correr da vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.

Riobaldo 

Um livro que você sempre recomenda

Fora da literatura brasileira, um dos que mais recomendo é “Ensaio sobre a Cegueira”, do escritor português José Saramago.  O livro narra a história de uma epidemia de cegueira branca que se espalha por uma cidade. É uma obra arrebatadora, que prende o leitor do início ao fim e provoca uma reflexão sobre a natureza humana e sobre a cegueira moral que reina na sociedade.

Uma poesia que vale a pena saber de cor

“O 4º Motivo da Rosa”, do livro Mar Absoluto, de Cecília Meireles. É o número 4 de uma sequência de cinco poemas. Ele me foi apresentado há mais de 40 anos e me encantou de tal maneira que nunca mais o esqueci. É um texto belíssimo que trata com delicadeza da fugacidade e da eternidade da vida por meio da imagem da rosa que se despetala e assim se eterniza no aroma que espalha. Eu interpreto também esse desfolhar-se como uma metáfora da solidariedade: o ser humano que sabe doar-se aos demais neles se perpetua, ao contrário daquele que se fecha, intacto, e transforma-se apenas em cinza.

Não te aflijas com a pétala que voa:

também é ser, deixar de ser assim.


Rosas verás, só de cinza franzida,

mortas, intactas pelo teu jardim

Eu deixo aroma até nos meus espinhos,

ao longe, o vento vai falando em mim.

E por perder-me é que me vão lembrando,

por desfolhar-me é que não tenho fim.

Cecília Meireles

Autor ou autora que você gostaria de ter como vizinho (a)

Gostaria de ter sido vizinha de Simone de Beauvoir só para ter a chance de presenciar suas instigantes conversas com Sartre e outros intelectuais da época. É claro que me restaria o papel de mera espectadora.

Um tema que te inquieta – e talvez sempre vá inquietar

A existência de guerras no mundo. Não há justificativa para tamanha insanidade.

A mudança que gostaria de ver no mundo

Gostaria que houvesse, por parte das pessoas e instituições, mais empatia, compromisso ambiental e menos ânsia por poder e riqueza, para, consequentemente, haver paz e justiça social. Utopia? Espero que não.

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