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#157 - EYN Convida: Diana Radomysler
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#Edição 157
Diana Radomysler é sócia do studio mk27 e diretora dos núcleos de Interiores e Design. Desde 1994, colabora com Marcio Kogan na criação de projetos que dissolvem os limites entre espaços internos e externos, transformando-os em experiências sensoriais. À frente de uma equipe que trabalha com precisão quase artesanal, Diana conduz projetos com um olhar apurado para o essencial — formas simples, detalhes precisos, atmosferas que acolhem. Seu trabalho é um convite ao silêncio visual e à beleza que não grita. Autora de todos os interiores e produtos assinados pelo studio mk27, já foi reconhecida por premiações como Dezeen Awards, Wallpaper* Design Awards e The Plan Award.
Qual superpoder você gostaria de ter
Um botão de “ejetar”. Pra ejetar tudo que não me faz bem: o que não me traz felicidade, o que não me pertence, o que não me escuta, o que não dá prazer… enfim, posso continuar essa lista ad eternum.
Um conteúdo (artigo/post etc…) que o inspirou recentemente
A chegada do programa Aproxima ao escritório, temos participado de uma série de conversas que fazem parte dele. Ele parte da consciência de que a arquitetura ainda é uma área majoritariamente branca e elitista, e propõe algo concreto para mudar isso: estágios rotativos voltados a estudantes pretos, pardos e indígenas de Arquitetura e Urbanismo. O Studio MK27 — e eu, como sócia diretora — acreditamos num presente em que a diversidade precisa ser valorizada de verdade.
Uma palavra que vale a pena conhecer
Aprendi com minha filha Clio, grande fã do Paulo Freire, a palavra “esperançar”. É mais do que esperar — é uma ação, uma construção coletiva de um futuro melhor.
Um conselho que vale a pena compartilhar
Não dê conselhos!
Um podcast que vale a pena ouvir
Gosto muito do 451 MHz, da revista Quatro Cinco Um, sobre livros e cultura. O nome é uma referência ao livro Fahrenheit 451, que fala sobre a proibição e queima de livros — e 451 é a temperatura em que o papel pega fogo. O podcast é apresentado pelo Paulo Werneck, que foi curador de várias edições da FLIP, Festa Literária de Paraty. A FLIP faz parte do nosso calendário familiar há anos.

Um livro que vale a pena ler
O Elogio à Sombra, do Junichiro Tanizaki. Fala sobre como na cultura japonesa a sombra, o sutil, o quase invisível, têm valor. É o oposto da obsessão ocidental pela luz e pela evidência. O título também aparece num poema do Borges — sobre ele reconhecer sua própria sombra e a sombra da própria obra, onde encontra seu reflexo.

Um hábito diário que nutre sua criatividade
Estar curioso no mundo.
Um sonho recorrente – literal ou metafórico
Viver num mundo mais justo e em paz. Parece até resposta de miss universo, mas é sincero.
Se pudesse morar em qualquer espaço que não projetou, qual seria
O Amós Oz que todos deveriam ter um deserto no quintal de casa. Recentemente, conheci os Lençóis Maranhenses — um lugar absolutamente mágico e poético. Desde então, sonho com este deserto com piscinas de água doce como meu quintal.

Uma causa que está em meu coração
Traduzir sonhos em espaços que gerem emoções e qualidade de vida.
Como São Paulo, com suas contradições urbanas, se reflete no seu processo criativo
São Paulo é um caos. Mas um caos no sentido original da palavra, que vem do grego “khaos” — vazio, abismo. Tem uma certa magia nisso. A desordem nos obriga a ser mais criativos do que seríamos num lugar onde tudo já está no lugar certo. As possibilidades se abrem muito mais.

O limiar entre minimalismo e aconchego – como você navega essa fronteira
Sempre digo que nós, arquitetos, somos intérpretes de sonhos. Nossa arquitetura é racionalista — simples, leve, funcional — mas ao mesmo tempo busca aconchego, com o uso de materiais naturais, mistura de texturas, iluminação indireta. Brinco que somos especialistas em fazer bibliotecas, principalmente nas casas — porque esse é um lugar onde o cliente pode colocar a vida dele toda. O limiar entre o minimalismo e o acolhimento está aí: entre o essencial e o afetivo.
Uma contradição na arquitetura brasileira que te desafia criativamente
Tentar fazer uma arquitetura mais sustentável — o que, hoje, é mais que necessário, é urgente. A gente sabe que construir tem impacto, então como minimizar isso e, ao mesmo tempo, criar espaços que tragam conforto, bem-estar, eficiência? É um equilíbrio delicado, que exige repensar tudo: do terreno aos materiais, da energia à água. Pra lá de urgente!!!
Se pudesse jantar com duas personalidades históricas quem escolheria
Convidaria a Frida Kahlo e a Charlotte Perriand. Duas mulheres fortes, livres, absolutamente à frente do seu tempo. A Frida, com toda a potência artística, feminista, símbolo de resistência. E a Charlotte, uma arquiteta e designer brilhante, pioneira do modernismo, que abriu caminhos num campo dominado por homens. Imagina esse jantar?

Seu lugar favorito em SP
Minha casa. Projeto do Studio, mas é mais que isso — é meu lugar de vida, memória, família. Minha caverna.

Um objeto pessoal que sempre carrega consigo e sua história
Meu brinco de pérola. Não saio sem ele. A pérola nasce da dor e do incômodo — aparece quando um grão de areia ou um corpo estranho entra na ostra, e ela responde criando algo bonito, envolvendo aquilo em camadas de madrepérola. Pra mim, é um símbolo: a ideia de que a gente pode transformar o desconforto em algo valioso. É um lembrete diário de que dá pra sair mais forte — e mais bonito — depois de qualquer turbulência.

Uma frase que vale repetir:
Por que não?
Era o nome do catamarã que meu pai comprou numa fase difícil. Quando a gente perguntou se era hora de comprar um barco, ele só disse: “Pourquoi pas?” Foi uma grande lição de vida.
Meu lema é
Eu sei que a gente se acostuma, mas não devia.
É uma frase saída de uma crônica da Marina Colassanti, de 1937 e me parece sempre válida e atual. Se acostumar com situações ruins ou injustas, ou até com as coisas mais simples. O trajeto de casa para o trabalho vira uma rotina, e paramos de perceber o que está em volta, os detalhes, a beleza do dia.
Uma conta do Instagram que vale a pena seguir
@fazendinhando, um projeto de transformação das favelas por meio da arquitetura social e do empoderamento comunitário.

Meu app favorito
O Audible — um aplicativo de audiolivros — virou meu companheiro. Escutar um livro é uma delícia. Junta o encantamento da literatura com a praticidade do áudio: dá pra ouvir enquanto caminho, cozinho, dirijo, treino. Os narradores (às vezes os próprios autores) dão vida às histórias, aos personagens, às emoções. É quase como tomar um café com um bom contador de histórias. E o Waze, essencial para mim. Uso até para encontrar meu caminho até o banheiro rs.

O único artista cujo trabalho eu colecionaria se pudesse…
Vermeer, com certeza. Holandês do século XVII, fazia cenas de interiores, silenciosas, íntimas - sempre com uma luz inacreditável. Os personagens parecem suspensos no tempo, meio mergulhados em si mesmos. Acho lindo.

© Johannes Vermeer, A Leiteira c. 1660, Rijksmuseum, Amsterdam
Um filme que vale a pena assistir
A Mulher das Dunas, do Hiroshi Teshigahara, de 1964. É poético, visualmente impressionante, erótico até. A areia é a personagem principal — ela domina, cobre os corpos, controla o tempo. Desliza lentamente. Uma metáfora sobre identidade, existência… pura poesia.

Um hábito que vale a pena cultivar
Dançar. Dançar muito, dançar sempre. Seguir pela vida dançando.

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