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#159 - EYN Convida: Ana Canosa

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#Edição 159

Psicóloga clínica com uma carreira dedicada a entender os muitos contornos da sexualidade humana, Ana Canosa é uma das vozes mais respeitadas (e gostosas de ouvir) quando o assunto é comportamento, desejo e afeto. Pós-graduada em educação e terapia sexual, ela atua como coordenadora de cursos de pós-graduação no UNISAL e no IBCMED, é membro do conselho deliberativo da SBRASH e editora da Revista Brasileira de Sexualidade Humana. Apresenta o podcast Sexoterapia (em parceria com a Universa/UOL), escreve o blog que leva seu nome e já assinou diversos livros e capítulos sobre o tema. Com 57 anos recém-completados, é mãe de um adolescente de 15, casada com Paulo há 25 e movida por curiosidade — talvez coisa de geminiana. Ama viajar, se mexer e conversar sobre tudo que nos move por dentro. A gente adorou trocar com ela.

Qual superpoder você gostaria de ter

Queria poder desligar a minha mente por alguns minutos sempre que quisesse. Um botãozinho que silenciasse os pensamentos, as listas mentais, as cobranças... e deixasse só o silêncio, o presente, o corpo. Um superpoder de descanso interno.

Um conteúdo que a inspirou recentemente

Escrevi na minha coluna na Universa/UOL sobre a série Dying for Sex — e ela me atravessou de um jeito profundamente pessoal. A história gira em torno de uma mulher que, ao receber a notícia do retorno do câncer, decide buscar o prazer como último ato de liberdade. Mas o que realmente me tocou foi perceber como, muitas vezes, vamos morrendo aos poucos — bem antes da morte real — toda vez que silenciamos nossos desejos, deixamos de habitar o nosso corpo ou permitimos que os outros falem por nós. Com humor e coragem, a série mostra que o prazer pode ser um caminho de autoconhecimento e resistência. E me fez lembrar que viver de verdade exige coragem para se escolher — mesmo quando tudo ao redor parece pedir o contrário.

Uma palavra que vale a pena conhecer

Desejante. É uma palavra que me acompanha há anos. Ela não se limita ao desejo sexual — fala sobre estar vivo, sobre ter vontade, sobre se mover em direção a algo. Ser desejante é estar em contato com o que pulsa dentro da gente, com o que ainda falta, com o que nos provoca. E eu acho que o que nos mantém inteiros — mesmo em tempos difíceis — é justamente isso: continuar desejando.

Um conselho que vale a pena compartilhar

Escolha o seu difícil/. A vida adulta é um cardápio de dilemas sem final feliz garantido. A gente escolhe, mas escolhe sabendo que vai doer de um lado ou de outro. É difícil sair de um relacionamento morno, mas também é difícil renunciar a novas experiências - ficar e engolir o que não cabe mais. É difícil se reinventar, mas ficar parado também dói. Em algum nível, todo caminho cobra seu preço — não existe opção com isenção de custo emocional.

Um tabu brasileiro sobre sexualidade que considera mais urgente de ser quebrado

A crença de que educação sexual é um incentivo ao sexo. Essa ideia equivocada atrasa políticas públicas, paralisa escolas e impede famílias de oferecerem ferramentas básicas de proteção e conhecimento aos seus filhos e filhas. Educação sexual não é sobre ensinar práticas sexuais — é sobre ensinar respeito ao corpo, consciência dos limites, noções de consentimento e afeto. É um ato de cuidado. De responsabilidade. De saúde. Quando oferecida desde a infância, com linguagem apropriada para cada fase do desenvolvimento, ela protege — não expõe. Ela fortalece o senso de autonomia e dignidade. É urgente quebrar esse tabu. Porque o silêncio, sim, é perigoso e, porque quando evitamos a conversa por medo, quem sofre são as crianças e adolescentes — que crescem desinformados, vulneráveis e, muitas vezes, cheios de culpas que nunca deveriam ter carregado.

Um podcast que vale a pena ouvir

Aqui eu advogo em causa própria: Sexoterapia, o podcast que apresento ao lado da jornalista Bárbara dos Anjos Lima. A cada episódio, mergulhamos em conversas sinceras e sem tabus sobre sexualidade, desejo e relacionamentos. O que me inspira é a possibilidade de criar um espaço seguro, onde as pessoas possam refletir sobre suas experiências, quebrar preconceitos e se reconectar com seus próprios desejos.

Mais do que um programa, ele é uma espécie de registro da minha missão no mundo: falar sobre sexualidade de forma honesta, com raiz na ciência, mas com a bússola sempre apontada para a vivência real das pessoas — e, claro, sem perder o bom humor. O mais bonito é que muitas pessoas me procuram para agradecer. Dizem que encontraram reflexões importantes, que se sentiram representadas, que esclareceram dúvidas e, acima de tudo, que se desenvolveram emocional e sexualmente ao ouvir os episódios. Isso, pra mim, é a prova de que conversar sobre sexo é também uma forma de cuidar. É uma jornada de autoconhecimento e liberdade que me emociona a cada nova temporada.

Já são mais de 90 episódios. Se você ainda não conhece, corre pra ouvir.

Um livro que vale a pena ler

Um livro que vale a pena ler: Tudo é Rio, de Carla Madeira, deveria ser lido por todos. A narrativa entrelaça as vidas de 3 personagens que vivem uma espécie de triângulo amoroso intenso, explorando temas como amor, dor, perdão e redenção. É interessante perceber como as mulheres podem viver o prazer sexual de maneira distinta e ainda assim encontrarem uma linguagem comum ao feminino. A escrita de Carla é poética e visceral, conduzindo o leitor por emoções profundas e complexas. O livro me fez refletir sobre os limites do perdão e a capacidade humana de se reconstruir após traumas profundos. É uma leitura que permanece comigo, provocando reflexões sobre a natureza humana e as nuances dos relacionamentos.

Um mito sobre sexualidade que você se cansa de desconstruir no consultório

O de que o desejo sexual legítimo é aquele que aparece sozinho, do nada, como mágica — bastam os hormônios, uma paixão nova ou uma boa novidade. Esse é o tal do desejo espontâneo, e muita gente acredita que ele é o único válido.

Quando ele não aparece, o que se conclui? Que tem algo errado.

Mas essa ideia é problemática, porque para muitas pessoas — especialmente em relações longas ou na rotina adulta — o desejo não vem do nada. Ele responde a estímulos: o toque, a conversa, o clima, o olhar. A maioria das pessoas experimenta o chamado desejo responsivo, que não surge antes da excitação, mas depois dela. E isso é absolutamente saudável, normal, legítimo.

O mito do desejo espontâneo como norma faz muita gente acreditar que perdeu o interesse, que o relacionamento está acabado ou que tem alguma disfunção — quando, na verdade, só precisa de contexto, conexão e tempo para aquecer.

Desejar também é construir.

Uma descoberta recente sobre comportamento sexual humano que te surpreendeu

Confesso que poucas coisas me surpreendem hoje em dia, mas recentemente me deparei com uma notícia que me fez arquear as sobrancelhas: a inauguração do primeiro bordel cibernético do mundo, o Cybrothel, em Berlim. Nesse estabelecimento, clientes podem reservar uma hora com bonecas sexualizadas equipadas com inteligência artificial, interagindo verbal e fisicamente com elas. Embora eu compreenda as motivações — como a busca por segurança, controle, dificuldade de encontrar parcerias ou ausência de julgamento — ainda me pergunto: que graça pode ter? Será que o prazer que não passa pelo imprevisto, pelo toque humano, pelo afeto, sustenta alguma coisa além da curiosidade? Talvez sim, talvez não. Mas confesso que, por mais aberta que eu seja, essa ideia ainda me intriga. Não por tabu — mas por tédio mesmo.

Um hábito diário que nutre a alma

Atualmente, tocar violão. Comecei a aprender há 1 ano e meio e isso me traz uma alegria serena.

Um objeto pessoal que sempre carrega consigo e sua história

Não existe um único objeto que me acompanhe sempre, mas eu não saio de casa sem meus anéis, brincos e colares. É mais do que vaidade — é quase um ritual de presença. Cada peça tem uma história: algumas ganhei de pessoas queridas, outras trouxe de viagens que marcaram fases da minha vida. São lembranças que se tornam adornos e que me ajudam a me reconhecer no espelho, mesmo nos dias mais corridos. Meus acessórios são minha armadura sensível — um jeito de me vestir de mim mesma antes de sair pro mundo.

O único artista cujo trabalho eu colecionaria se pudesse

Obras da artista espanhola Lita Cabellut. Descobri o trabalho dela há algum tempo e fui completamente atravessada. São retratos enormes, viscerais, cheios de textura — como se cada rosto estivesse ali há séculos: envelhecido, rachado, mas ainda cheio de vida. Ela pinta gente que parece ter vivido muito. E eu gosto disso. Me atrai essa beleza imperfeita, meio ferida, que não tenta agradar. Gente que existe antes de ser bonita.

Tem algo no olhar das mulheres que ela pinta que me pega. Elas não sorriem, não seduzem, não performam. Elas simplesmente são. Aguentam o peso do mundo com uma dignidade crua. Isso me emociona. Porque tem dias em que a gente também está assim — tentando sustentar a própria cara no espelho, sem deixar nada cair. A arte dela me lembra que tudo o que a gente sente — medo, raiva, desejo, tristeza — pode virar matéria bonita. Que até a dor pode virar cor. E isso, pra mim, é um consolo. 

© Lita Cabellut, Impressions of Asia 03, da Série: Vida desgarrando Arte

Um filme que vale a pena assistir

 A Pedra da Paciência não é um filme fácil, mas é de uma profundidade imensa. A história gira em torno de uma mulher afegã que cuida do marido em estado vegetativo, enquanto a guerra acontece ao redor. Isolada, ela começa a falar com ele como nunca pôde em vida — sobre medos, desejos, frustrações. E nesse silêncio que escuta, ela vai se ouvindo também. A relação muda de lugar, e ela também. O que me impressiona nesse filme é a metáfora da morte simbólica do outro como condição para o nascimento de si. Às vezes, é preciso que certas idealizações morram, para que a verdade de alguém possa enfim existir. É um filme sobre silêncio, repressão, desejo, e também sobre a coragem de se reencontrar — mesmo no lugar mais árido, mesmo com tudo desmoronando. É daqueles que ficam reverberando dias depois, como um sussurro interno pedindo escuta.

O que mais te incomoda na maneira que a sexualidade aparece na mídia brasileira

O tudo ou nada. A binaridade. Ou a sexualidade vira uma fofoca escandalosa, com manchetes apelativas — ou aparece travestida de narrativa libertária, como se todas as vivências fossem fáceis, fluidas, resolvidas. Falta nuance. Falta escuta. E, ultimamente, o que mais tem me irritado é a forma como pesquisas científicas sobre sexo são divulgadas. Fica nítido que, muitas vezes, ninguém leu o artigo original. Não entenderam a metodologia, os objetivos, nem as limitações do estudo. Tudo vira uma chamada caça-clique: sem profundidade, sem contexto, sem responsabilidade com o leitor. A sexualidade é um tema complexo — atravessa corpo, cultura, afeto, história pessoal. Não dá pra tratar como se fosse uma nota de rodapé do entretenimento. O público merece mais. E a ciência também.

Como você imagina que a educação sexual deveria começar na infância

Aos poucos, desde cedo, com naturalidade. A educação sexual começa nas pequenas conversas do cotidiano: quando a criança aprende a nomear as partes do corpo, a respeitar o espaço do outro, a entender o que é intimidade, carinho, afeto. Sexualidade não é só sobre sexo — é sobre como a gente se relaciona com o próprio corpo e com o mundo. Muitas famílias acreditam que só devem falar sobre isso na adolescência, mas aí já pode ser tarde para construir confiança. O ideal é ir preparando o terreno com abertura, escuta, sem mentiras ou silêncios que gerem vergonha. Falar de prazer, de desejo, de cuidado, de limites. E não apenas reforçar medo, perigo ou culpa. Educar sexualmente é ensinar a cuidar de si e do outro, a reconhecer os próprios sentimentos, a desenvolver responsabilidade — mas também prazer e autoestima. E isso não se faz em uma conversa só. É uma construção de vida inteira.

Uma pergunta/tópico que pacientes fazem/mencionam e que revela muito sobre a nossa sociedade

Como abrir o relacionamento?” As pessoas não estão mais apenas flertando com a ideia — elas querem entender como fazer isso sem destruir a parceria que construíram com tanto afeto. Querem ajustar desejo e estabilidade no mesmo contrato. Isso revela como a sociedade está mudando. O modelo tradicional de casamento vem sendo questionado, não porque o amor “perdeu valor” – como muitas pessoas julgam -, mas porque há um desejo crescente de liberdade — de viver mais experiências, de se permitir. Ao mesmo tempo, as pessoas estão cercadas por infinitas possibilidades, cruzam com novos corpos, novos discursos, novas formas de amar… e isso gera fascínio, sim, mas também muita ansiedade. Existe uma espécie de falácia social de que “tá todo mundo transando, experimentando”. Não é bem assim. O desejo de liberdade existe, mas ele também convive com culpa, medo e insegurança. O que vejo no consultório é que, mais do que abrir ou não abrir, as pessoas querem encontrar um jeito de serem honestas com seus desejos — e, quem sabe, serem aceitas mesmo assim.

Uma conta do Instagram que vale a pena seguir

A do fotógrafo brasileiro Brian Baldrati, conhecido como @isthisreal. Ele realiza um projeto chamado Retratos Desconhecidos, onde aborda pessoas nas ruas, para fotografá-las de maneira espontânea e sensível. O trabalho de Brian é marcado por uma abordagem humanizada, capturando a essência e a beleza das pessoas comuns em seu cotidiano. Suas imagens são acompanhadas de histórias tocantes, promovendo reflexões sobre empatia, conexão e a diversidade da experiência humana. Além disso, ele compartilha vídeos dos bastidores dessas interações, mostrando o processo de aproximação e construção de confiança com os retratados. Ultimamente ele esteve em viagem com a mãe dele, uma figura especial.

Meu app favorito

Whatsapp, porque eu resolvo muita coisa trocando mensagens, além de me comunicar com amigos e familiares. Também amo os apps que facilitam a minha vida, como Uber, Waze, IFood ou apps de banco.

Se pudesse jantar com duas personalidades históricas, quem escolheria

Maria Lacerda de Moura e Anaïs Nin — duas mulheres que ousaram escrever sobre o que ninguém queria ouvir: o prazer, o amor, o corpo, a liberdade, a contradição. Maria Lacerda foi uma educadora e pensadora brasileira que, em plena década de 1920, já falava sobre amor livre, feminismo, sexualidade e anarquismo — tudo isso com uma lucidez que ainda incomodaria hoje. Já Anaïs Nin escreveu como quem sussurra ao ouvido. Seus diários e contos eróticos são convites para mergulhar nas profundezas do desejo e da psique. Com ela, eu gostaria de conversar sobre o que se cala quando se ama, sobre os labirintos do prazer, sobre como a fantasia pode ser uma forma de verdade. Seria um jantar entre palavras perigosas, sorrisos cúmplices e a certeza de que escrever — e viver — o desejo é também um gesto político.

©(Arte Andreia Freire / Reprodução)

Uma questão existencial que te acompanha há tempos

Será que a liberdade sexual que buscamos é realmente nossa?

Essa é uma pergunta que me atravessa como mulher, terapeuta e comunicadora. A gente fala tanto em liberdade — e é um valor que eu defendo com unhas, dentes e palavras —, mas às vezes me pergunto até que ponto o nosso desejo está de fato enraizado em nós, ou se ele ainda responde a narrativas que não escolhemos: o que é sexy, o que é desejável, o que é válido, o que é performativo.

É um questionamento que não tem resposta pronta, mas que me move. Me ajuda a escutar mais fundo as histórias que ouço, a me provocar também. Porque liberdade, mesmo quando se trata de prazer, precisa ser uma construção consciente. E isso dá trabalho — mas é o tipo de trabalho que eu gosto de fazer.

Uma frase que vale repetir:

 “Entre o real e o ideal há o possível.”

Uma frase que me acompanha e me orienta, porque é importante saber onde se está e onde se quer chegar — sem se perder na fantasia, nem se aprisionar na rigidez do agora. Aponte a bússola e siga se aprimorando. Faça o possível, mas com firmeza. É assim que sigo, na vida e na escuta: com os pés no chão, o desejo no corpo e o coração apontado para o que pode ser melhor.

Uma pergunta que ninguém nunca te fez sobre seu trabalho, mas que você gostaria de responder

Se a sua libido fosse um animal, qual seria?

Acho que seria um polvo. Porque tem muitos braços, muito tato, se adapta ao ambiente, é inteligente, misterioso e, quando necessário, se camufla — mas nunca desaparece de verdade. Ele envolve, seduz, experimenta, e se algo ameaça, puff… libera tinta e some. Mas tá lá, cheio de tentáculos prontos para explorar o mundo de novo.

Um insight sobre relacionamentos:

Amor é um ato da vontade. Dizer “eu te amo” é fácil. Difícil mesmo é fazer amor — e não estou falando de sexo. Fazer amor é estar disposto a ser afetado pelo outro, mesmo quando ele nos apresenta verdades que nos colocam em apuros. É sustentar a convivência com alguém diferente de nós, sem querer moldá-lo à nossa imagem.

É legitimar a alteridade — e, ainda assim, querer o bem dessa pessoa, com presença, afeto e cuidado. Relacionamento não vem pronto. Não é um acaso. É um investimento, uma construção que exige energia, paciência, escuta e, muitas vezes, revisão de rota.

E, se por acaso acabar… isso não significa que fracassou. Essa narrativa me incomoda profundamente. Uma relação pode ter cumprido seu ciclo. Ter ensinado. Feito crescer. Acolhido dores. Dado alegria. Isso não é fracasso — é história. E isso também é amor.

Sexualidade na terceira idade

A resposta sexual muda — o corpo passa a precisar de mais tempo, mais estímulo. Mas isso não significa perda, significa adaptação. O desejo não desaparece com a idade — ele só encontra outras formas de se manifestar.

As prioridades também se transformam: sai de cena a obsessão pela performance, pela frequência, pelo padrão pornográfico de excitação. E entra o prazer genuíno de estar com o outro, de tocar e ser tocado com presença. O foco se desloca para a qualidade do encontro, para o tempo da entrega, para o erotismo que se constrói no olhar, na conversa, na paciência.

A maturidade traz a liberdade de quem já se conhece. De quem já não precisa provar nada. E isso, por si só, é profundamente sexy. Quando a gente entende que o sexo não é um sprint, mas uma dança longa e afetuosa, o corpo envelhecido vira um aliado — e não um obstáculo.

©Rankin/Relate/Reprodução

Entre vulnerabilidade e força – como você define coragem sexual? 

Coragem sexual, pra mim, é o ato de se despir — não só do corpo, mas das certezas, das defesas, dos papéis que a gente aprendeu a representar. É ter a ousadia de dizer o que se deseja, o que se teme, o que não se sabe. É sustentar o incômodo de olhar pra si mesmo com honestidade, mesmo quando o espelho devolve dúvidas, vontades inesperadas ou silêncios antigos. Coragem sexual é também saber dizer não. É respeitar os próprios limites e os do outro. É entender que vulnerabilidade e prazer andam de mãos dadas — e que só se goza de verdade quando se está inteiro ali. No fim, coragem sexual é aceitar que o desejo é um território vivo. E estar disposto a habitá-lo, com o coração aberto, mesmo sem mapa.

Uma vida sexual saudável:

Envolve conhecimento do corpo e cuidado com ele — não só da anatomia, mas daquilo que desperta, do que bloqueia, do que pede mais tempo. Envolve também o entendimento da sua linguagem sexual: se você é mais sensorial, mais lúdico, mais romântico, mais provocador.

Quando a gente se entende, o prazer não depende só do outro — ele flui com mais espontaneidade. Mas uma vida sexual saudável não é feita só de orgasmos. Ela se alimenta de presença, de comunicação aberta, de segurança afetiva. É preciso saber falar do que se gosta, do que não se quer, do que ainda se está descobrindo. Também é importante ajustar as expectativas — entender que o desejo oscila, que nem todo encontro será memorável, e que tudo bem. Saúde sexual é um equilíbrio entre escuta, desejo e respeito.

É um lugar onde o prazer tem espaço, mas não exige perfeição. No fundo, é estar disposto a viver uma sexualidade viva, real e possível — e não idealizada.

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